Uma equação diferencial ordinária de 1 ordem é uma equação do tipo
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(5.1) |
onde , é uma função dada e
é um conjunto aberto;
é uma variável independente, pertencente ao intervalo
com
números reais
e
é a variável que depende de
. Qualquer função
que satisfaça a edo (5.1) é dita solução dessa equação. Isto é, se
é solução então ela satisfaz
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(5.2) |
Podemos impor uma condição inicial para essa equação, qual seja,
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(5.3) |
quando consideramos a equação diferencial (5.1) junto com a condição inicial (5.3) então dizemos que se trata um problema de Cauchy. Condições são colocadas sobre a função de modo que o problema de Cauchy
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(5.4) |
tenha uma única solução. À priori, a nossa função pode ser qualquer função de duas variáveis. Mas para se garantir existência de soluções da equação diferencial (5.1)
teria de ser no mínimo contínua. Há dois teoremas importantes sobre existência de soluções que enunciamos a seguir.
Theorem 106 (Picard). Se de
forem contínuas num domínio retangular
então há um intervalo
no qual existe uma única solução
satisfazendo a equação diferencial (5.1) e as condições iniciais (5.3).
Theorem 107 (Peano). Se é contínua num domínio retangular
então há um intervalo
no qual existe pelo menos uma solução
satisfazendo a equação diferencial (5.1) e as condições iniciais (5.3). Mas nesse caso, não se garante unicidade.
Por exemplo, dada a equação diferencial ordinária
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então é solução dessa equação, pois,
e
. Note que essa solução não é única, já que
é também uma solução da equação diferencial junto com as condições iniciais.
Example 108. A relação é uma solução implícita da equação diferencial
no intervalo
(5.5)
De fato, por diferenciação implícita, temos
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ou
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Além disso, resolvendo para
em termos de
obtemos
as duas funções
e
são soluções explícitas da edo (5.5) no intervalo
No caso mais simples em que a função é linear em relação a variável
a nossa equação diferencial de 1
ordem se apresenta na forma
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(5.6) |
onde e
são funções reais quaisquer definidas no intervalo
. Se supomos que
e
são funções cont
nuas em
então esta equação tem uma resolução bem simples, pois se consideramos primeiro a equação linear homogênea associada à equação (5.6), isto é,
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(5.7) |
podemos escrever tal equação na forma
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integrando em temos
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onde é uma constante arbitrária, segue que
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(5.8) |
é uma solução da equação homogênea (5.7) com Usando agora o método de variação dos parâmetros para
dada em (5.8) temos
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substituindo tal resultado em (5.6) obtemos
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segue que
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o que nos dá
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da
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(5.9) |
onde é uma constante arbitrária. Logo,
dada por
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(5.10) |
onde é definida em (5.9) é a solução geral de (5.6).
Vejamos alguns modelos matemáticos de algumas edos que podem ser físicos, biológicos, químicos, etc.
Crescimento Populacional
Modelo de Malthus
Se representa a população numa certa região num determinado instante
então
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Modelo de Verhulst
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onde e
são constantes.
Decaimento Radioativo
A taxa a qual o núcleo de uma substância decai é proporcional à quantidade
da substância remanescente no instante
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Remark 109. Uma única equação diferencial pode servir como modelo matemático para vários fenômenos diferentes. Modelos matemáticos são frequentemente acompanhados por determinadas condições laterais. Por exemplo para o modelo de crescimento populacional esperaríamos conhecer a população inicial e no modelo de decaimento radiativo a quantidade inicial da substância radioativa.
Lei de Resfriamento de Newton
De acordo com a Lei empírica de Newton do resfriamento, a taxa segundo a qual a temperatura de um corpo varia é proporcional à diferença entre a temperatura do corpo e a temperatura do meio que o rodeia, denominada de temperatura ambiente. Nesse caso, se é a temperatura do corpo e
é temperatura do meio ambiente então
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Disseminação de uma doença
Uma doença contagiosa espalha-se numa comunidade através do contato entre as pessoas. Seja o número de pessoas que contraíram a doença e
o número de pessoas que ainda não foram expostas. É razoável supor que a taxa
segundo a qual a doença se espalha seja proporcional ao número de encontros ou interações entre esses dois grupos de pessoas. Se supormos que o número de interações é proporcional ao produto
então
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é a constante de proporcionalidade. Se a comunidade tem uma população fixa de
pessoas. O número de
é
. Assim
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se no instante inicial haviam pessoas infectadas então
Misturas
No instante , um tanque contém
kg de sal dissolvido em
litros de água. Uma solução de sal em água com
kg de sal por litro entra no tanque a uma razão de
litros por minuto e a solução do tanque, bem misturada, sai a mesma razão. Seja
a quantidade de sal no tanque num instante
. A taxa de variação da quantidade de sal no tanque, no instante
,
, é igual à taxa na qual o sal entra no tanque, menos a taxa na qual o sal sai do tanque. Logo,
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Mecânica
A lei do movimento de Newton diz que
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é a força externa,
é massa,
é a aceleração. Para um corpo que cai livremente num vácuo, e bastante próximo da terra, temos que
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onde é o peso do corpo,
é massa do corpo e
é a aceleração da gravidade. Mesmo que a massa do corpo permaneça constante, seu peso, e a aceleração da gravidade, alteram-se com a distância ao centro do campo gravitacional da terra. Para um corpo muito distante da terra
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constante. Em
, temos que
então
e, portanto,
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