3.1 Séries de Potências

Uma série de potências de $x$ é uma série do tipo

  \[  \sum _{n=0}^{\infty } a_ n x^ n=a_0 + a_1 x+a_2 x^2+\cdots +a_ n x^ n+\cdots  \]    

Example 68. A série

  \[  \sum _{n=0}^{\infty } x^ n=1+x+x^2+\cdots +x^ n+\cdots  \]    
é uma série de potências de $x$. Observe que ela é uma série geométrica de razão $r=x$. Como a série geométrica só converge se $|r|<1$ então a série $\sum _{n=0}^{\infty } x^ n$ só converge se $|x|<1.$ Neste caso, sua soma é $S=\dfrac {1}{1-x}.$ Podemos então afirmar que
  \[  \dfrac {1}{1-x}=1+x+x^2+\cdots +x^ n+\cdots , \, \, \,  |x|<1.  \]    

Dada uma série de potências de $x$, $\sum a_ n x^ n$, usando o teste da razão temos que

  \[  \lim _{n\to \infty } \left|\dfrac {a_{n+1}x^{n+1}}{a_ n x^ n}\right|=|x| \lim _{n\to \infty } \left|\dfrac {a_{n+1}}{a_ n}\right|=|x|l<1  \]    

logo, $|x|<\dfrac {1}{l}=R$, $R$ é o raio de convergência da série $\sum _{n=0}^{\infty } a_ n x^ n$.

Theorem 69. Seja $\sum _{n=0}^{\infty } a_ n x^ n$ uma série de potências de $x$. Se $\sum _{n=0}^{\infty } a_ n x^ n$ converge para um certo $c\neq 0$ e diverge para um certo $d\neq 0$ com $|c|<|d|$. Então $\sum _{n=0}^{\infty } a_ n x^ n$ converge absolutamente para todo $x$ tal que $|x|<|c|$ e diverge para todo $x$ tal que $|x|>|d|$.

Seja a série $\sum _{n=0}^{\infty } a_ n x^ n$ tal que ela converge para $x=c$ e diverge para $x=d$ com $|c|<|d|$. Considere $x$ tal que $|x|<|c|$ temos que

  \[  \sum _{n=0}^{\infty } |a_ n ||x|^ n=\sum _{n=0}^{\infty } |a_ n c^ n| \left(\frac{|x|}{|c|}\right)^ n  \]    
como $\sum _{n=0}^{\infty } a_ n c^ n$ converge então devemos ter que $lim_{n\to \infty }|a_ n c^ n|=0$, podemos então tomar $n_0$ tal que $|a_ n c^ n|<1$ para todo $n>n_0$ desse modo,
  \[  |a_ n||x|^ n= |a_ n c^ n| \left(\frac{|x|}{|c|}\right)^ n<\left(\frac{|x|}{|c|}\right)^ n,\, \, \, \forall n>n_0  \]    
como $|x|<|c|$ então $ |\dfrac {x}{c}|<1$ e a série $\sum _{n=n_0}^{\infty } \left|\frac{x}{c}\right|^ n$ é uma série geométrica convergente. Desse modo, a série $\sum _{n=n_0}^{\infty } |a_ n ||x|^ n$ converge, o que implica que a série $\sum _{n=0}^{\infty } a_ n x^ n$ converge absolutamente para todo $|x|<|c|$. Agora suponha que $x$ seja tal que $|x|>|d|$ se, por absurdo, supomos que exista algum $x_1$ com $|x_1|>|d|$ e $\sum a_ n x_1^ n $ convirja, então pelo que acabamos de mostrar essa série deve convergir para todo $x$ tal que $|x|<|x_1|$ assim, como, $|d|<|x_1| $ então $\sum a_ n d^ n$ converge, o que é um absurdo. Então para todo $x$ tal que $|x|>|d|$ a série $\sum _{n=0}^{\infty } a_ n x^ n$ diverge.

Theorem 70. Seja $\sum a_ n x^ n $ uma série de potências de $x$. Então somente uma das alternativas abaixo deve ocorrer.

  1. A série converge somente para $x=0$ (R=$0$)

  2. A série converge para todo $x$ real. (R=$\infty $)

  3. Existe $R>0$ tal que a série $\sum a_ n x^ n $ converge para todo $x$ tal que $|x|<R$ e diverge para todo $x$ tal que $|x|>R$.

Se não ocorre a primeira nem a segunda situação então existe um $x_1\neq 0$ onde $\sum a_ n x_1^ n $ converge e um $x_2\neq 0$ com $|x_1|<|x_2|$ onde $\sum a_ n x_2^ n $ diverge. Seja

  \[  S=\{  x\in \mathbb {R}| \sum a_ n x^ n \quad \mbox{converge}\}   \]    
é claro que $|x_2|$ é uma cota superior de $S$, tomemos então $R=\sup S.$ Provemos que se $|x|<R $ então $x\in S$. De fato, se $|x|<R$ então $x$ não pode ser cota superior de $S$ já que $R$ é a menor das cotas superiores, então deve ter um elemento $x_0$ de $S$ tal que $|x|\leq |x_0|$ então pelo teorema anterior $x\in S$. Também se $x$ não pertencesse a $S$ então $\sum a_ n x^ n $ divergiria e $x$ seria uma cota superior de $S$ o que contradiz o fato de $R$ ser a menor delas, já que $|x|<R$. Por outro lado, se $|x|>R$ então $\sum a_ n x^ n $ deve divergir, pois se $\sum a_ n x^ n $ convergisse $R$ não seria uma cota superior de $S$ o que é absurdo já que $R=\sup S$.

$R$ é o raio de convergência da série $\sum a_ n x^ n$. Já o intervalo de convergência da série é um dos seguintes intervalos:

  \[  (-R, R),\, \,  (-R,R],\, \,  [-R,R), \, \,  [-R,R]  \]    

fora desses intervalos a série sempre diverge. E o intervalo $(-R,R)$ é sempre o intervalo de convergência absoluta da série.

Theorem 71. Seja $\sum a_ n x^ n$ uma série de potências de $x$. Se essa série tem raio de convergência $R$. Então ela pode ser derivada termo a termo ou integrada termo a termo, isto é,

  \[  \dfrac {d}{dx}\left(\sum _{n=0}^{\infty } a_ n x^ n\right)=\dfrac {d}{dx}\left(a_0+a_1 x+a_2 x^2+\cdots +a_ n x^ n+\cdots \right) \]    
  \[  =a_1 +2a_2 x+3a_3 x^2 + \cdots +n a_ n x^{n-1}+\cdots =\sum _{n=1}^{\infty } n a_ n x^{n-1}  \]    
e
  \[  \int _0^ x \left(\sum _{n=0}^{\infty } a_ n t^ n\right) dt=\sum _{n=0}^{\infty } \int _0^ x t^ n dt=\sum _{n=0}^{\infty } \dfrac {a_ n x^{n+1}}{n+1}  \]    
essas novas séries obtidas têm o mesmo raio de convergência da série original.

Example 72. Obtenha uma série de potências de $x$ que represente a função $f(x)=\dfrac {1}{(1+x)^2}.$

Solução: Observe que

  \[  \dfrac {d}{dx}\left(\dfrac {1}{1+x}\right)=-\dfrac {1}{(1+x)^2}  \]    

como

  \[  \dfrac {1}{1+x}=1-x+x^2-\cdots +(-1)^ n x^ n+\cdots  \]    

usando o teorema 71 obtemos

  \[  -\dfrac {1}{(1+x)^2}=\dfrac {d}{dx}\left(\dfrac {1}{1+x}\right)=-1+2x-3x^2+\cdots +(-1)^ n n x^{n-1}+\cdots \, \, \,  |x|<1.  \]    

Example 73. Obtenha uma série de potências de $x$ que represente a função $\ln (1+x)$.

Solução: Note que

  \[  \ln (1+x)=\int _0^ x \dfrac {1}{1+t}dt  \]    

como

  \[  \dfrac {1}{1+t}=\sum _{n=0}^{\infty } (-1)^ n t^ n, \, \, \,  |t|<1  \]    

o que nos leva a

  \[  \ln x=\sum _{n=0}^{\infty } (-1)^ n\dfrac {x^{n+1}}{n+1},\, \, \,  |x|<1  \]    

O intervalo de convergência dessa série é $(-1,1]$. Isso, porque quando escolhemos $x=-1$ na série de $\ln (1+x)$ obtemos a série numérica $-\displaystyle \sum _{n=0}^{\infty } \dfrac {1}{n+1}$ que é divergente, por outro lado, se fazemos $x=1$ na série de $\ln (1+x)$ obtemos a série $\displaystyle \sum _{n=0}^{\infty } \dfrac {(-1)^ n}{n+1}$ que converge pelo teste de Leibniz.

Example 74. A série $\sum _{n=0}^{\infty } \dfrac {x^ n}{n!}$ é absolutamente convergente para todo $x$ real. Que função essa série representa?

Solução:De fato,vemos que

  \[  \lim _{n \to \infty } \left| \dfrac {x^{n+1}}{(n+1)!}\dfrac {n!}{x^ n} \right|=\lim _{n \to \infty } \dfrac {|x|}{n+1}=0<1  \]    

então pelo teste da razão essa série converge absolutamente para todo $x$ real. Suponha que a série acima represente uma função $f(x)$, ou seja, $f(x)=\displaystyle \sum _{n=0}^{\infty } \dfrac {x^ n}{n!}.$ Derivando a função $f(x)$ obtemos

  \[  f’(x)=\sum _{n=1}^{\infty } n \dfrac {x^{n-1}}{n!}  \]    

ou

  \[  f’(x)=\sum _{n=1}^{\infty } \dfrac {x^{n-1}}{(n-1)!}  \]    

ou ainda

  \[  f’(x)=f(x)  \]    

daí

  \[  \dfrac {f’(x)}{f(x)}=1  \]    

integrando a igualdade acima obtemos

  \[  \ln f(x)=x+c_0  \]    

ou

  \[  f(x)=Ce^ x,\, \, \,  (C=e^ c_0 \, \, \, \mbox{é uma constante})  \]    

como $f(0)=1$ obtemos $C=1$ e $f(x)=e^ x$, portanto, $\displaystyle \sum _{n=0}^{\infty } \dfrac {x^ n}{n!}=e^ x$.

Uma série de potências de $x-x_0$ é uma série do tipo

  \[  \sum _{n=0}^{\infty } a_ n (x-x_0)^ n=a_0+a_1 (x-x_0) + a_2 (x-x_0)^2+\cdots +a_ n (x-x_0)^ n+\cdots  \]    

Todos os resultados que obtivemos para as séries de potências de $x$ são válidos para as séries de potências de $x-x_0$ com as devidas adaptações.

Example 75. Da série

  \[  \dfrac {1}{1+x}=\sum _{n=0}^{\infty } (-1)^ n x^ n, \, \, |x|<1 \]    
obtemos
  \[  \dfrac {1}{1+x^2}=\sum _{n=0}^{\infty } (-1)^ n x^{2n}, \, \, |x|<1  \]    
integrando termo a termo, de $0$ a $x$ para $|x|<1$, temos
  \[  \operatorname{arctg}x=\sum _{n=0}^{\infty } (-1)^ n \dfrac {x^{2n+1}}{2n+1}, \, \, \,  |x|\leq 1  \]    

Example 76. Considere a série $\sum _{n=0}^{\infty } \dfrac {(x-3)^{n+1}}{n}$ analisemos sobre o intervalo de convergência dessa série.

Solução: Usando o teste da razão

  \[  \lim _{n\to \infty } \left|\dfrac {(x-3)^{n+2}}{n+1}\dfrac {n}{(x-3)^{n+1}}\right|=\lim _{n\to \infty } |x-3|\dfrac {n}{n+1}=|x-3|  \]    

essa série converge absolutamente se $|x-3|<1$, que equivale a $2<x<4$ e diverge fora desse intervalo. No caso em que $|x-3|=1$ que corresponde a $x=2$ e $x=4$, quando substituimos $x=2$ nessa série obtemos $\sum \dfrac {(-1)^ n}{n}$ que converge e para $x=4$ obtemos a série $\sum \dfrac {1}{n}$ que diverge. Logo, o intervalo de convergência da série $\sum _{n=0}^{\infty } \dfrac {(x-3)^{n+1}}{n}$ é o intervalo $2\leq x<4.$