3.2 Plano Tangente e Reta Normal

Suponhamos que uma superfície $S$ seja o gráfico da equação $F(x,y,z)=0$ e que $F$ tenha derivadas parciais primeiras contínuas. Seja $P_0 (x_0,y_0,z_0)$ um ponto de $S$ no qual $F_ x$, $F_ y$ e $F_ z$ não sejam simultaneamente nulos. uma reta tangente a $S$ em $P_0$ é, por definição, uma reta $L$ tangente a qualquer curva $C$ de $S$ que contenha $P_0.$ Se $C$ admite a parametrização

  \[  x=f(t), \quad y=g(t),\quad z=h(t)  \]    

para $t$ em algum intervalo $I$ e se $r(t)$ é o vetor posição de $P(x,y,z)$, então

  \[  r(t)=f(t)\vec{i}+g(t)\vec{j}+h(t)\vec{k}. \]    

Logo,

  \[  r’(t)=f’(t)\vec{i}+g’(t)\vec{j}+h’(t)\vec{k}  \]    

é um vetor tangente a $C$ em $P(x,y,z).$ Para cada $t$ o ponto $(f(t),g(t),h(t))$ de $C$ também pertence a $S$ e, portanto,

  \[  F(f(t),g(t),h(t))=0. \]    

Fazendo

  \[  W=F(x,y,z) \]    

com $x=f(t)$, $y=g(t)$, e $z=h(t)$, então, pela regra da cadeia, e como $W=0$ para todo $t$, temos

  \[  \dfrac {dW}{dt}=\dfrac {\partial W}{\partial x}\dfrac {dx}{dt}+\dfrac {\partial W}{\partial y}\dfrac {dy}{dt}+\dfrac {\partial W}{\partial z}\dfrac {dz}{dt}=0; \]    

Assim, para todo ponto $P(x,y,z)$ de $C,$

  \[  F_ x(x,y,z)f’(t)+F_ y(x,y,z)g’(t)+F_ z (x,y,z)h’(t)=0, \]    

ou equivalentemente

  \[  \nabla F(x,y,z) \cdot r’(t)=0. \]    

Em particular, se $P_0 (x_0,y_0,z_0)$ corresponde a $t=t_0$ então

  \[  \nabla F|_{P_0} \cdot r’(t_0)=\nabla F(x_0,y_0,z_0) \cdot r’(t_0)=0 \]    

Como $r’(t_0)$ é um vetor tangente a $C$ em $P_0$, isto implica que o vetor $\nabla F|_{P_0}$ é ortogonal a toda reta tangente $l$ a $S$ em $P_0.$ O plano que passa por $P_0$ com vetor normal $\nabla F|_{P_0}$ é o plano tangente a $S$ em $P_0$. (Mostramos que toda reta tangente $l$ a $S$ em $P_0$ está no plano tangente em $P_0$.)

Teorema 19. Seja $F(x,y,z)$ uma função de três variáveis com derivadas parciais primeiras contínuas, e seja $S$ o gráfico de $F(x,y,z)=0$ em $P_0 \in S$, com $F_ x^2+F_ y^2+F_ z^2 \neq 0$ em $P_0$ então $\nabla F|_{P_0}$ é normal ao plano tangente a $S$ em $P_0$.

O vetor $\nabla F|_{P_0}$ do teorema 19 é designado como a normal à superfície $S$ em $P_0$.

Corolário 4. A equação do plano tangente ao gráfico de $F(x,y,)=0$ no ponto $P_0(x_0,y_0,z_0)$ é

  \[  F_ x(x_0,y_0,z_0)(x-x_0)+F_ y(x_0,y_0,z_0)(y-y_0)+F_ z(x_0,y_0,z_0)(z-z_0)=0. \]    

Podemos também descrever o plano tangente como

  \[  \nabla F(x_0,y_0,z_0)\cdot [(x-x_0)\vec{i}+(y-y_0)\vec{j}+(z-z_0)\vec{k}]=0 \]    

Exemplo 44. Ache a equação do plano tangente ao elipsóide $\dfrac {3}{4} x^2+3y^2+z^2=12$ no ponto $P_0(2,1,\sqrt{6}).$

Solução: Para usar o corolário 4 expressamos inicialmente, a equação de superfície na forma $F(x,y,z)=0$ onde

  \begin{equation} \label{supnorm} F(x,y,z)=\dfrac {3}{4}x^2+3y^2+z^2-12=0 \end{equation}   (3.1)

As derivadas parciais de $F$ são

  \[  F_ x=\dfrac {3}{2}x, \quad F_ y=6y, \quad F_ z=2z  \]    

e, então em $P_0(2,1,\sqrt{6})$ temos

  \[  F_ x(2,1,\sqrt{6})=3, \quad F_ y(2,1,\sqrt{6})=6, \quad F_ z(2,1,\sqrt{6})=2\sqrt{6}  \]    

aplicamos o corolário, obtendo

  \[  3(x-2)+6(y-1)+2\sqrt{6}(z-\sqrt{6})=0  \]    

ou

  \[  3x+6y+2\sqrt{6}z=24  \]    

e o vetor normal à superfície $S$ dada pela equação (3.1) é o vetor

  \[  \nabla F|_{P_0}=\nabla F(2,1,\sqrt{6})=3\vec{i}+6\vec{j}+2\sqrt{6}\vec{k} \]    

Se $z=f(x,y)$ é a equação de $S$, e fazendo $F(x,y,z)=f(x,y)-z$, então a equação do corolário 4 toma a forma

  \[  f_ x(x_0,y_0)(x-x_0)+f_ y(x_0,y_0)(y-y_0)+ (-1)(z-z_0)=0  \]    

onde $z_0=f(x_0,y_0)$.

Teorema 20. A equação do plano tangente ao gráfico de $z=f(x,y)$ no ponto $(x_0,y_0,z_0)$ é

  \[  z-z_0=f_ x(x_0,y_0)(x-x_0)+f_ y(x_0,y_0)(y-y_0) \]    

A reta perpendicular ao plano tangente no ponto $P_0(x_0,y_0,z_0)$ de uma superfície $S$ é a reta normal a $S$ em $P_0$.Se $S$ é o gráfico de $F(x,y,z)=0$, então a normal é paralela ao vetor $\nabla F(x_0,y_0,z_0)$.

Exemplo 45. Ache a equação da reta normal ao elipsóide $\dfrac {3}{4} x^2+3y^2+z^2=12$ no ponto $P_0(2,1,\sqrt{6}).$

Solução: Temos que

  \[  \nabla F|_{P_0}=\nabla F(2,1,\sqrt{6})=3\vec{i}+6\vec{j}+2\sqrt{6}\vec{k}  \]    

daí, a reta normal ao elipsóide é

  \[  x=2+3t, \quad y=1+6t, \quad z=\sqrt{6}+2\sqrt{6}t,  \]    

com $t$ variando em $\mathbb {R}.$

Seja $S$ o gráfico da equação $z=f(x,y).$ O plano tangente a $S$ no ponto $P_0(x_0,y_0,z_0)$ permite obter uma interpretação geométrica para a diferencial:

  \[  dz=f_ x(x_0,y_0)\Delta x+f_ y(x_0,y_0)\Delta y.  \]    

Como

  \[  \Delta z=f(x_0+\Delta x, y_0+\Delta y)-f(x_0,y_0)  \]    

o ponto $P(x_0+\Delta x, y_0+\Delta y, z_0 +\Delta x)$ está em $S.$

Seja $C(x_0+\Delta x, y_0+\Delta y, z)$ um ponto no plano tangente, e consideremos os pontos $A(x_0+\Delta x, y_0+\Delta y,0)$ e $B(x_0+\Delta x,y_0+\Delta y, z_0).$ Como $C$ está no plano tangente suas coordenadas vericam a equação do plano tangente, isto é,

  \[  z-z_0=f_ x(x_0,y_0)(x_0+\Delta -x_0) x+f_ y(x_0,y_0)(y_0+\Delta y-y_0)  \]    
  \[  =f_ x(x_0,y_0)\Delta x+f_ y(x_0,y_0)\Delta y=dz  \]    

0u seja, $|dz|=\| \overline{BC}\| $, $|dz|$ é a distância de $B$ ao ponto do plano tangente, diretamente acima (ou abaixo) de $B.$

Suponha que temos uma função $F$ de três variáveis dada por

  \[  w=F(x,y,z)  \]    

se o ponto $P_0(x_0,y_0,z_0)$ é um ponto fixo, então o gráfico da equação:

  \[  F(x,y,z)=f(x_0,y_0,z_0)  \]    

é a superfície de nível que passa pelo ponto $P_0.$ Em todo ponto dessa superfície o valor de $F$ é sempre o mesmo $w_0=F(x_0,y_0,z_0).$ Pelo teorema 19, $\nabla F|_{P_0}$, $\nabla F|_{P_1}$ e $\nabla F|_{P_2}$ são vetores normais às suas superfícies correspondentes nos pontos $P_0$, $P_1$ e $P_2$, respectivamente.

Vimos que a taxa máxima de variação de $F(x,y,z)$ em $P_0(x_0,y_),z_0)$ ocorre na direção do gradiente de $F$, nesse ponto, isto é na direção de $\nabla F|_{P_0}$. Pelo que vimos, esta taxa máxima de variação ocorre na direção que é normal à superfície de nível de $F$ que contém $P_0.$

Teorema 21. Seja $F$ uma função de três variáveis diferenciável em $P_0 (x_0,y_0,z_0),$ e $S$ a superfície de nível de $F$ que contém $P_0$. Se $\nabla F(x_0,y_0,z_0)\neq 0,$ então este vetor gradiente é normal a $S$ em $P_0.$ Assim a direção da taxa máxima de variação de $F(x,y,z)$ em $P_0$ é normal a $S.$

Exemplo 46. Se $F(x,y,z)=x^2+y^2+z$ esboce a superfície de nível de $F$ que passa pelo ponto $P(1,2,4)$, diga quem é $\nabla F(1,2,4).$

Solução: As superfícies de nível de $F$ são gráficos de equações da forma

  \[  F(x,y,z)=k, \quad k \quad \text {constante}  \]    

Como $F(1,2,4)=1^2+2^2 + 4=9$ a superfície de nível que passa por $P(1,2,4)$ é o gráfico da equação $F(x,y,z)=9$, isto é,

  \[  z=9-x^2-y^2.  \]    

Esta superfície é o parabolóide circular com concavidade para baixo e com vértice no ponto $(0,0,9).$

O gradiente de $F$ é:

  \[  \nabla F=2x \vec{i}+ 2y\vec{j}+\vec{k}  \]    

e em $P(1,2,4)$ temos que

  \[  \nabla F(1,2,4)=2(1)\vec{i}+2(2)\vec{j}+\vec{k}=2\vec{i}+4\vec{j}+\vec{k}.  \]    

Exemplo 47. Seja $f(x,y)=x^2+4y^2.$

  1. Trace a curva de nível $C$ de $F$ que passa pelo ponto $P(2,1)$ e esboce $\nabla f(2,1).$

  2. Discuta o significado de (1) em torno do gráfico de $f.$

Solução:

  1. $f(2,1)=2^2+4=8,$ assim $x^2+4y^2=8$ (elipse) e $\nabla f(x,y)=2x\vec{i}+8y\vec{j}$ o que implica em $\nabla f(2,1)=4\vec{i}+8\vec{j}.$

  2. O gráfico de $z=f(x,y)$ é um parabolóide elíptico, a equação $x^2+4y^2=8$ é a curva de nível de $f$ correspondente a $z=8$ e o $\nabla f(2,1)=4\vec{i}+8\vec{j}$ é a direção da taxa máxima de variação de $f$ no ponto $P(2,1)$.