2.2 Incrementos e Diferenciais

Definição 4. Seja $f: D \rightarrow \mathbb {R}$, $D\subset \mathbb {R}^2$, $\Delta x$ e $\Delta y$ denotam o incremento de $x$ e $y$, respectivamente. O incremento $\Delta w$ de $w=f(x,y)$ é:

  \[  \Delta w=f(x+\Delta x, y+\Delta y)-f(x,y). \]    

Exemplo 23. Seja $w=3x^2-xy.$ (a) se $\Delta x$ e $\Delta y$ são incrementos de $x$ e $y$ determine $\Delta w$. (b) Use $\Delta w$ para calcular a variação de $f(x,y)$ quando $(x,y)$ varia de $(1;2)$ a $(1,01;1,98)$.

Solução: Seja

  \[  \Delta w=f(x+\Delta x,y+\Delta y)-f(x,y) \]    
  \[  \Delta w=3(x+\Delta x)^2-(x+\Delta x).(y+\Delta y)-(3x^2-xy) \]    
  \[  =3x^2+6x\Delta x+3 (\Delta x)^2-xy-x\Delta y-y\Delta x-\Delta x \Delta y-3x^2+xy \]    
  \[  =(6x-y)\Delta x-x\Delta y+3 (\Delta x)^2-\Delta x \Delta y \]    

.

Teorema 6. Seja $w=f(x,y)$ definida em $R=\{ (x,y): a<x<b, c<y<d\} ,$ suponhamos que $f_ x$ e $f_ y$ existem em $R$ e sejam contínuas em $(x_0,y_0)\in R$. Se $(x_0+\Delta x,y_0+\Delta y)\in R$ e $\Delta w=f(x_0+\Delta x, y_0+\Delta y)-f(x_0,y_0)$ então

  \[  \Delta w=f_ x(x_0,y_0)\Delta x+f_ y(x_0,y_0)\Delta y+ \varepsilon _1 \Delta x+\varepsilon _2 \Delta y \]    
onde $\lim _{(\Delta x,\Delta y)\rightarrow (0,0)} \varepsilon _ i=0.$

Definição 5. Seja $w=f(x,y)$ e sejam $\Delta x$ e $\Delta y$ incrementos de $x$ e $y$, respectivamente.

Exemplo 24. Se $w=x^2-xy$ calcule $dw$.

Solução:

  \[  dw=\dfrac {\partial w}{\partial x}dx+\dfrac {\partial w}{\partial y}dy \]    
  \[  dw=(6x-y)dx+(-x)dy \]    

.

Definição 6. Seja $w=f(x,y)$ a função $f$ é bluediferenciável em $(x_0,y_0)$ se $\Delta W$ puder ser escrita como:

  \[ \Delta w=f_ x(x_0,y_0)\Delta x+f_ y(x_0,y_0)\Delta y+ \varepsilon _1 \Delta x+\varepsilon _2\Delta y \]    
onde $\varepsilon _1$ e $\varepsilon _2$ são funções de $\Delta x$ e $\Delta y$ e $\lim _{(\Delta x,\Delta y)\rightarrow (0,0)} \varepsilon _ i=0.$

Diz-se que uma função $f$ é bluediferenciável numa região $R$ se $f$ é diferenciável em todos os pontos de $R$.

Teorema 7. Seja $w=f(x,y)$ e se $f_ x$ e $f_ y$ são contínuas numa região $R$ então $f$ diferenciável em $R$.

Prova: Consequência do teorema $\ref{diferen}$.

Teorema 8. Se uma função $f$ é diferenciável em $(x_0,y_0)$ então ela é contínua nesse ponto.

Prova:

  \[ \Delta w=f(x_0+\Delta x, y_0+\Delta y)-f(x_0,y_0) \]    
  \[  \Delta w=f_ x(x_0,y_0)\Delta x+f_ y(x_0,y_0)\Delta y+ \varepsilon _1 \Delta x+\varepsilon _2 \Delta y. \]    

Fazendo $x=x_0+\Delta x$ e $y=y_0+\Delta y$ obtemos

  \[  f(x,y)-f(x_0,y_0)=f_ x(x_0,y_0)(x-x_0)+f_ y(x_0,y_0)(y-y_0)+ \varepsilon _1 (x-x_0)+\varepsilon _2 (y-y_0), \]    

segue que

  \[  \lim _{(x,y)\rightarrow (x_0,y_0)} f(x,y)-f(x_0,y_0)=0 \]    

logo $f$ é contínua.

Corolário 1. Se $f$ é uma função de duas variáveis e se $f_ x$ e $f_ y$ são contínuas numa região retangular $R$ então $f$ é contínua em $R$.

Prova: Segue diretamente do teorema 8.

Exemplo 25. Seja

  \[  f(x,y)=\begin{cases}  \dfrac {xy}{x^2+y^2}\,  (x,y)\neq (0,0)\\ 0, \,  (x,y)=(0,0) \end{cases} \]    
Então
  1. $f_ x(0,0)$, $f_ y(0,0)$ existem;

  2. $f$ não é contínua em $(0,0)$;

  3. $f$ não é diferenciável em $(0,0)$.

De fato, temos que

  \[  f_ x(0,0)=\lim _{h\to 0} \dfrac {f(h,0)-f(0,0)}{h}=\lim _{h\to 0}\dfrac {\dfrac {h.0}{h^2+0^2}-0}{h}=0.  \]    

Analogamente, $f_ y(0,0)=0$, portanto, essas derivadas parciais de $f$ existem no ponto $(0,0)$ mas, nota-se que elas não são contínuas na origem. Também vemos que

  \[  \lim _{x\to 0} f(x,x)=\lim _{x \to 0} \dfrac {x^2}{2x^2}=\dfrac {1}{2}  \]    

o que implica que $f$ não é contínua na origem, logo $f$ não pode ser diferenciável.

Seja $w=f(x,y,z)$ uma função de três variáveis então seu incremento será

  \[  \Delta w=f(x+\Delta x, y+\Delta y,z+\Delta z)-f(x,y,z). \]    

e também teremos que

  \[  \Delta w=f_ x(x,y,z)\Delta x+f_ y (x,y,z)\Delta y+f_ z (x,y,z)\Delta z+ \varepsilon _1 \Delta x+\varepsilon _2 \Delta y+\varepsilon _3 \Delta z \]    

onde $\displaystyle \lim _{(\Delta x, \Delta y,\Delta z)\to (0,0,0)}\varepsilon _ i=0$.

Definição 7. Seja $w=f(x,y,z)$ as diferenciais de $x$, $y$ e $z$ são:

  \[  dx=\Delta x, \quad dy=\Delta y, \quad dz=\Delta z \]    
e a diferencial de $w$ é:
  \[  dw=\frac{\partial w}{\partial x}dx+\frac{\partial w}{\partial y}dy+\frac{\partial w}{\partial z}dz. \]    

Exemplo 26. Suponha que as dimensões de uma caixa retangular varia de $(9,6,4)$ para $(9,02; 5,17;4,01)$.

  1. Obtenha uma aproximação da variação do volume.

  2. Ache a variação exata do volume.

onde $V=xyz.$

Solução:(a) $\Delta V \approx dV=\frac{\partial V}{\partial x}dx+\frac{\partial V}{\partial y}dy+\frac{\partial V}{\partial z}dz=yz\, dx+xz\, dy+xy\, dz$

  \[  dV=0,98-1,08+0,54=-0,06  \]    


(b)$\Delta V=(9,07)(5,97)(4,01)-9.6.4=-0,063906.$

Suponhamos $w=f(x,y,z)$ definida numa região $R$ do espaço tridimensional e suponha que existam $f_ x$, $f_ y$ e $f_ z$ em $R$ e que sejam contínuas em $(x,y,z).$ Se dermos a $x$, $y$, $z$ incrementos $\Delta x$, $\Delta y$, $\Delta z$, respectivamente, então o incremento de $w$ correspondente é:

  \[  \Delta w=f(x+\Delta x, y+\Delta y, z+\Delta z)-f(x,y,z). \]    

Podemos escrever este incremento na forma:

  \[  \Delta w=\dfrac {\partial f}{\partial x}(x,y,z)\Delta x+\dfrac {\partial f}{\partial y}(x,y,z)\Delta y+\dfrac {\partial f}{\partial z}(x,y,z)\Delta z+R(\Delta x, \Delta y,\Delta z), \]    

onde $\displaystyle \lim _{(\Delta x, \Delta y, \Delta z)\to (0,0,0)} \dfrac {R(\Delta x, \Delta y,\Delta z)}{\| (\Delta x, \Delta y,\Delta z)\| }=0.$

Definição 8. Seja $w=f(x,y,z)$ e sejam $\Delta x$, $\Delta y$ e $\Delta z$ incrementos de $x$, $y$ e $z$, respectivamente.

  1. As diferenciais $dx$, $dy$ e $dz$ de $x$, $y$ e $z$ são

      \[  dx=\Delta x, \quad dy=\Delta y, \quad dz=\Delta z. \]    
  2. A diferencial $dw$ da variável dependente $w$ é

      \[  dw=\dfrac {\partial w}{\partial x}dx+\dfrac {\partial w}{\partial y}dy+\dfrac {\partial w}{\partial z}dz. \]    

Pode-se usar $dw$ como aproximação de $\Delta w$ se os incrementos de $x$, $y$ e $z$ são pequenos.

Definição 9. Seja $f:A\subset \mathbb {R}^2 \to \mathbb {R},$ $A$ aberto, e $(x_0,y_0)\in A$. Dizemos que $f$ é diferenciável em $(x_0,y_0)$ se, e somente se, existirem reais $a$ e $b$ tais que

  \[  \lim _{(h,k)\to (0,0)} \dfrac {f(x_0+h,y_0+k)-f(x_0,y_0)-a\cdot h-b\cdot k}{\| (h,k)\| }=0. \]    

Observação 2. Podíamos também definir a diferenciabilidade de $f$ em $(x_0,y_0)$ como:

  \[  f(x_0+h,y_0+k)=f(x_0,y_0)+a\cdot h+b\cdot k+R(h,k) \]    
onde $\displaystyle \lim _{(h,k)\to (0,0)} \dfrac {R(h,k)}{\| (h,k)\| }=0.$

Teorema 9.

Se $f$ for diferenciável em $(x_0,y_0)$ então $f$ é contínua em $(x_0,y_0)$.

Prova: Sendo $f(x,y)$ diferenciável em $(x_0,y_0)$, existem reais $a$ e $b$ tais que

  \[  \lim _{(h,k)\to (0,0)} \dfrac {R(h,k)}{\| (h,k)\| }=0 \]    

onde $R(h,k)=f(x_0+h,y_0+k)-f(x_0,y_0)-a\cdot h-b\cdot k.$ Como $\displaystyle \lim _{(h,k)\to (0,0)} ah+bk=0$ e $\displaystyle \lim _{(h,k)\to (0,0)} R(h,k)=\displaystyle \lim _{(h,k)\to (0,0)}\| (h,k)\| \dfrac {R(h,k)}{\| (h,k)\| } =0.$ resulta que $f$ é contínua em $(x_0,y_0)$.

Teorema 10. Seja $f:A\subset \mathbb {R}^2 \to \mathbb {R},$ $A$ aberto, e $(x_0,y_0)\in A$. Se $f$ for diferenciável nesse ponto, então $f$ admitirá derivadas parciais nesse ponto.

Prova: Seja $f$ diferenciável no ponto $(x_0,y_0)$ então existem $a$ e $b$ tais que

  \begin{equation}  \lim _{(h,k)\to (0,0)} \dfrac {R(h,k)}{\| (h,k)\| }=0.\label{Rhk} \end{equation}   (2.5)

onde $R(h,k)=f(x_0+h,y_0+k)-f(x_0,y_0)-a\cdot h-b\cdot k.$ Segue de (2.5) que

  \[  \lim _{h\to 0} \dfrac {R(h,0)}{\| (h,0)\| }=\lim _{h\to 0} \dfrac {f(x_0+h,y_0)-f(x_0,y_0)-a\cdot h}{|h|}=0  \]    

ou

  \[  \lim _{h\to 0}\dfrac {f(x_0+h,y_0)-f(x_0,y_0)-a\cdot h}{h}=0  \]    

e, portanto,

  \[  \dfrac {\partial f}{\partial x}(x_0,y_0)=\lim _{h\to 0}\dfrac {f(x_0+h,y_0)-f(x_0,y_0)}{h}=a  \]    

Analogamente,

  \[  \dfrac {\partial f}{\partial y}(x_0,y_0)=b.  \]    

Teorema 11. Seja $f:A\subset \mathbb {R}^2 \to \mathbb {R},$ $A$ aberto, e $(x_0,y_0)\in A$. Tem-se que $f$ é diferenciável em $(x_0,y_0)$ se, e somente se, $f$ admite derivadas parciais em $(x_0,y_0)$ e $\displaystyle \lim _{(h,k)\to (0,0)} \dfrac {R(h,k)}{\| (h,k)\| }=0.$

Observação 3. Devemos notar que as seguintes condições devem ser satisfeitas para a diferenciabilidade de uma função $f$:

  1. $\displaystyle \lim _{(h,k)\to (0,0)} \dfrac {R(h,k)}{\| (h,k)\| }=0.\label{Rh}$

  2. Se uma das derivadas parciais em $(x_0,y_0)$ não existem então $f$ não é diferenciável.

  3. Se $f_ x$ e $f_ y$ existem em $(x_0,y_0)$ mas o item 1 não é satisfeito então $f$ não é diferenciável.

  4. Se $f$ não é contínua então $f$ não é diferenciável.

Exemplo 27. Mostre que a função $f(x,y)=\begin{cases}  \frac{x^4}{x^2+y^2}, \,  (x,y)\neq (0,0);\\ 0,\,  (x,y)=(0,0) \end{cases}$ é uma função diferenciável.

Solução: Temos que

  \[  \dfrac {\partial f}{\partial x}=\begin{cases}  \dfrac {2x^5+4x^3y^2}{(x^2+y^2)^2}, \,  (x,y)\neq (0,0);\\ 0, \,  (x,y)=(0,0) \end{cases}  \]    

e

  \[  \dfrac {\partial f}{\partial y}=\begin{cases}  \dfrac {-2x^4 y}{(x^2+y^2)^2}, \,  (x,y)\neq (0,0);\\ 0, \,  (x,y)=(0,0) \end{cases}  \]    

Em $(0,0)$ temos que

  \[  \dfrac {\partial f}{\partial x} (0,0)=\lim _{(x,y)\to (0,0)} \dfrac {\partial f}{\partial x} (x,y)=\lim _{(x,y)\to (0,0)}\dfrac {2x^5+4x^3y^2}{(x^2+y^2)^2}=0;  \]    

o mesmo vale para $\dfrac {\partial f}{\partial y} (0,0)$, logo $f$ é diferenciável.

Exemplo 28. Considere a função: $f(x,y)=\begin{cases}  \dfrac {x^3}{x^2+y^2},\,  (x,y)\neq (0,0)\\ 0, \,  (x,y)=(0,0) \end{cases}$ é diferenciável em $(0,0)$?

Solução|:

  \[ \dfrac {\partial f}{\partial x}(0,0)=1, \]    
  \[  \dfrac {\partial f}{\partial y}(0,0)=0 \]    

Como

  \[  R(h,k)=f(h,k)-f(0,0)-\dfrac {\partial f}{\partial x}(0,0)h+\dfrac {\partial f}{\partial y}|(0,0)k  \]    

então,

  \[  R(h,k)=\dfrac {h^3}{h^2+k^2}-h  \]    

logo,

  \[  \dfrac {R(h,k)}{\| (h,k)\| }=-\dfrac {hk^2}{(h^2+k^2)\sqrt{h^2+k^2}}=G(h,k)  \]    

assim,

  \[  \lim _{t \to 0} G(t,t)=-\lim _{t \to 0}\dfrac {t}{2\sqrt{2} |t|}  \]    

esse limite não existe, o que implica que o limite

  \[  \lim _{(h,k)\to (0,0)}\dfrac {R(h,k)}{\| (h,k)\| }  \]    

não existe. Portanto, $f$ não é diferenciável. Note que $f$ é contínua, pois,

  \[  \lim _{(x,y)\to (0,0)} f(x,y)=\lim _{(x,y)\to (0,0)} x\left(\dfrac {x^2}{x^2+y^2}\right)=0.  \]    

Exemplo 29. A função

  \[  f(x,y)=\begin{cases}  \dfrac {yx^2}{x^4+y^2}, \,  (x,y)\neq (0,0)\\ 0, \,  (x,y)=(0,0) \end{cases}  \]    
é diferenciável em $(0,0)$?

Solução: $f$ não é contínua em $(0,0)$, logo não é diferenciável.