15 Teorema de Stokes

Considere a figura abaixo, onde $S$ é o gráfico de $Z=f(x,y),$ e $f$ tem derivadas parciais primeiras cont\'{\i }nuas e a projeção $C_{1}$ de $C$ sobre o plano-xy é uma curva que delimita uma região $R$ da forma considerada no teorema de Green. Nessa figura, $\mathbf{n}$ é uma normal unitária exterior de $S.$ Vamos considerar a direção positiva ao longo de $C$ como a direção correspondente à direção positiva ao longo de $C_{1}.$ O vetor $\mathbf{T}$ na figura é um vetor unitário tangente a $C$ que aponta na direção positiva. Se $\mathbf{F}$ denota um campo vetorial cujas componentes têm derivadas parciais cont\'{\i }nuas numa região contendo $S,$ então temos o seguinte resultado, que denominamos o teorema de Stokes.

Seja $\mathbf{F}$ um campo vetorial, cujas componentes têm derivadas parciais cont\'{\i }nuas numa região que contém uma superf\'{\i }cie $S,$ orientável, parametrizada por $z=f(x,y),$ onde $\mathbf{n}$ representa o vetor normal unitário exterior de $S,$ cuja fronteira é dada por uma curva $C$ no espaço, que tem $\mathbf{T}$ como vetor tangente unitário$,$ então a integral curvil\'{\i }nea da componente tangencial de $\mathbf{F}$ tomada uma vez ao longo da curva $C$ na direção positiva é igual à integral de superf\'{\i }cie da componente normal de $rot$ $\mathbf{F}$ sobre $S.$ Isto é

  \begin{equation} {\displaystyle \oint \limits _{C}} \mathbf{F}\cdot \mathbf{T}\  ds={\displaystyle \iint \limits _{S}} \left( rot\  \mathbf{F}\right) \cdot \mathbf{n}\  dS.\label{stokes}\end{equation}   (16)

Seja $S$ a parte do parabolóide $z=9-x^{2}-y^{2}$ com $z\geq 0$ e seja $C$ o traço de $S$ no plano-xy.Verifique o teorema de Stokes $\left( \ref{stokes}\right) $ para o campo vetorial $\mathbf{F}=3z\mathbf{i}+4x\mathbf{j}+2y\mathbf{k.}$

Solução: Devemos mostrar que as duas integrais no teorema $\left( \ref{stokes}\right) $ são iguais. Temos que o vetor normal unitário exterior de $S$ é:

  \[  \mathbf{n}=\frac{2x\mathbf{i}+2y\mathbf{j}+\mathbf{k}}{\sqrt{4x^{2}+4y^{2}+1}} \]    

temos o rotacional de $\mathbf{F}$ é dado por

  \[  rot\  \mathbf{F}\text { }=\left\vert \begin{array}[c]{ccc}\mathbf{i} &  \mathbf{j} &  \mathbf{k}\\ \frac{\partial }{\partial x} &  \frac{\partial }{\partial y} &  \frac{\partial }{z}\\ 3z &  4x &  2y \end{array} \right\vert =2\mathbf{i}+3\mathbf{j}+4\mathbf{k} \]    

Consequentemente,

  \[ {\displaystyle \iint \limits _{S}} \left( rot\  \mathbf{F}\right) \cdot \mathbf{n}\  dS={\displaystyle \iint \limits _{S}} \frac{4x+6y+4}{\sqrt{4x^{2}+4y^{2}+1}}dS  \]    

assim

  $\displaystyle {\displaystyle \iint \limits _{S}} \left( rot\  \mathbf{F}\right) \cdot \mathbf{n}\  dS  $ $\displaystyle  ={\displaystyle \iint \limits _{R}} \frac{4x+6y+4}{\sqrt{4x^{2}+4y^{2}+1}}\sqrt{4x^{2}+4y^{2}+1}\  dA $    
  $\displaystyle  $ $\displaystyle  ={\displaystyle \iint \limits _{R}} \left( 4x+6y+4\right) dA  $    

onde $R$ é a região do plano-xy delimitada pelo c\'{\i }rculo de raio $3$ e centro na origem. Passando para coordenadas polares, temos

  $\displaystyle {\displaystyle \iint \limits _{S}} \left( rot\  \mathbf{F}\right) \cdot \mathbf{n}\  dS  $ $\displaystyle  =\int _{0}^{2\pi }\int _{0}^{3}\left( 4r\cos \theta +6r\operatorname {sen}\theta +4\right) rdrd\theta  $    
  $\displaystyle  $ $\displaystyle  =\int _{0}^{2\pi }\int _{0}^{3}\left[ \left( 4\cos \theta +6\operatorname {sen}\theta \right) r^{2}+4r\right] drd\theta  $    
  $\displaystyle  $ $\displaystyle  =\int _{0}^{2\pi }\left[ \left( 4\cos \theta +6\operatorname {sen}\theta \right) \frac{r^{3}}{3}+2r^{2}\right] _{0}^{3}d\theta  $    
  $\displaystyle  $ $\displaystyle  =\int _{0}^{2\pi }\left( 36\cos \theta +54\operatorname {sen}\theta +18\right) d\theta  $    
  $\displaystyle  $ $\displaystyle  =\left[ 36\operatorname {sen}\theta -54\cos \theta +18\theta \right] _{0}^{2\pi }=36\pi .  $    

A integral curvil\'{\i }nea do teorema de Stokes pode ser escrita como

  \[ {\displaystyle \oint \limits _{C}} \mathbf{F}\cdot \mathbf{T}\  ds={\displaystyle \oint \limits _{C}} \mathbf{F}\cdot d\mathbf{r=}{\displaystyle \oint \limits _{C}} 3zdx+4xdy+2ydz  \]    

onde $C$ é o c\'{\i }rculo $x^{2}+y^{2}=9$ no plano-xy. Como $z=0$ em $C,$ esta integral curvil\'{\i }nea se reduz a

  \[ {\displaystyle \oint \limits _{C}} \mathbf{F}\cdot d\mathbf{r=}{\displaystyle \oint \limits _{C}} 4xdy=4{\displaystyle \oint \limits _{C}} xdy  \]    

pelo teorema de Green, ${\displaystyle \oint \limits _{C}} xdy$ é a área da região (que representa um c\'{\i }rculo de raio $3$) delimitada por $C,$ desse modo,

  \[ {\displaystyle \oint \limits _{C}} \mathbf{F}\cdot d\mathbf{r=}4\left( 9\pi \right) =36\pi .  \]    

Usando o teorema de Stokes podemos obter uma interpretação f\'{\i }sica do rot $F.$ Se $P$ é um ponto arbitrário, seja $S_{k}$ um disco circular de raio $k$ e centro em $P$ e denotemos por $C_{k}$ a fronteira de $S_{k},$ aplicando o teorema de Stokes e um teorema de valor médio para integrais duplas, temos

  \[ {\displaystyle \oint \limits _{C_{k}}} \mathbf{F}\cdot \mathbf{T}\  ds={\displaystyle \iint \limits _{S_{k}}} \left( rot\  \mathbf{F}\right) \cdot \mathbf{n}\  dS=\left[ rot\  \mathbf{F.n}\right] _{P_{k}}\pi k^{2} \]    

onde $P_{k}$ é um ponto interior de $S_{k}$ e $\pi k^{2}$ é a área de $S_{k}.\  $Desse modo,

  \[  \left[ rot\  \mathbf{F.n}\right] _{P_{k}}=\frac{1}{\pi k^{2}}{\displaystyle \oint \limits _{C_{k}}} \mathbf{F}\cdot \mathbf{T}\  ds  \]    

fazendo $k\rightarrow 0,$ então $P_{k}\rightarrow P$ e assim, obtemos o seguinte resultado.

  \[  \left[ rot\  \mathbf{F.n}\right] _{P}=\lim _{k\rightarrow 0}\frac{1}{\pi k^{2}}{\displaystyle \oint \limits _{C_{k}}} \mathbf{F}\cdot \mathbf{T}\  ds  \]    

Se $F$ é um campo de velocidade de um fluido, a integral curvilinea ${\displaystyle \oint \limits _{C_{k}}} \mathbf{F}\cdot \mathbf{T}\  ds$ é a circulação em torno de $C.$ Ela mede a tendência média de fluido se mover, ou circular, ao longo da curva. Vê-se portanto, que $\left[ rot\  \mathbf{F.n}\right] $ nos dá informação sobre o movimento de um flu\'{\i }do ao longo da circunferência de um disco circular que é perpendicular a $\mathbf{n}$, quando o disco tende a reduzir-se a um ponto. Essa circulação é máxima quando o vetor $rot\  \mathbf{F}$ for paralelo ao vetor $\mathbf{n}$.